domingo, 31 de agosto de 2008

Três Lágrimas Paralelas




Artur Portela



A luz do elevador acendeu-se e ele percebeu que tinham começado a entrar na zona das Caves. Antes das Caves, bastava a luminosidade que atravessava as paredes do elevador. O casal jovem que estava sentado ao fundo calou-se. O velho riu. A luz envolvia-os a todos, amarela e pobre. Era só uma lâmpada, coberta por uma quantidade enorme de protecções e remendos de protecções. Ao princípio, despedaçavam as lâmpadas. Agora,de vez em quando, já destruíam o mecanismo dos elevadores.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Cem Obras-Primas da Pintura Europeia





Editorial Verbo



Do Séc XIII aos nossos dias, cem mestres da pintura europeia se acham incluídos nesta antologia, através da reprodução de uma das suas obras mais representativas, acompanhadas de uma breve nota biográfica e de um curto comentário à sua actividade artística. Pequeno "museu Imaginário" que a todos será grato percorrer, nele encontrará cada um de nós aquela satisfação que toda a obra de arte nos proporciona.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

A Viagem de Pedro o Afortunado




(na mesma obra: A Menina Júlia e Amor Maternal.

Augusto Strindberg


Acto 1
Na torre da igreja


O patamar de um piso da torre. Ao fundo, janela aberta pela qual se vê o céu estrelado e os telhados das casas cobertos de neve. Em frente, janelas e, mais acima, clarabóias, de águas-furtadas, todas intensamente iluminadas. Um cadeirão velho, uma mesa, uma braseira e uma imagem de Nossa senhora, pendurada na parede e iluminada por uma vela. No centro da divisão uma grande quantidade de vigas que sustém os sinos. Dois dos suportes são tão grossos que podem ocultar uma pessoa.

domingo, 24 de agosto de 2008

Anunciação





Bernardo Santareno



Cena VI

Chiquinho

(Entra com a água.) Quem é...?! Desculpa, Sibila, mas primeiro que me dessem a água!... A Rosa estava no meio da escada do sótão, de conversa com... com umas pernas de homem, que foi a única coisa que eu consegui ver! Quem é ele?!... Toma lá, bebe...! A outra, a velha -Guilhermina, não é? - coitada, pra mexer os pés... Mas quem é o dono daquelas pernas? Bebe, Sibila!?...

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Um Século de Histórias





António Marinho,Fernando Cardoso e Luis Areal Rothes



Thomas Andrews fumava despreocupadamente o seu charuto no convés principal do Titanic, enquanto os acordes da orquestra animavam os passageiros da primeira classe. De costas para o mar e apoiado na amurada do barco, apreciava, orgulhoso, a sua grandiosa obra. Não hesitara, nem por um momento, ao receber a proposta da White Star Line para construir o maior navio do mundo. E em apenas quatro anos, mais de 11300 trabalhadores tornaram aquele sonho possível.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Fisiologia do Casamento





Honoré de Balzac



"O casamento não deriva da natureza. - A família oriental difere completamente da família ocidental. - O homem é o ministro da natureza, e a sociedade vem enxertar-se nela. - As leis são feitas para os costumes, e os costumes variam. - O casamento é pois susceptível do aperfeiçoamento gradual a que todas as coisas humanas parecem sijeitas."
Estas palavras, pronunciadas por Napoleão perante o Conselho de Estado, quando se discutiu o Código Civil, impressionaram profundamente o autor deste livro; e talvez sem dar por isso, lançaram em seu espírito o germe da obra que hoje oferece ao público.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Historia de la Filosofía




Prof. Ernst von Aster



La redencion

Poco a poco este eterno retornar de via y muerte, este interminable ciclo de nacimientos en su "desdichada infinitud" (según expressión de Hegel) se convierte en el modelo de una existencia sin finalidad, sin objectivo, sin sentido; se convierte en una existencia de Sísifo, de la que el hombre ansía ser redimido.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Os Anjos e o Sangue





Bernardo Santareno


(...)
Fernando
(Troça onde se há-de sentir uma certa raiva.) Parece? E tu, Rosinha?... Tu danças bem?... (Tenta sincronizar, em ritmo de mambo, o o som que os seus dedos tiram de duas caixas de conserva, com o ruído que fazem as gotas da chuva caindo em duas ou três latas, postas no pavimento, nos sítios onde o tecto da igreja mete mais água. Armando e Carlos agitam logo os corpos, à cadência da música. João quieto.)
Anda daí, Rosa Tatuada!... (Fernando e Carlos dançavam comicamente.)
(...)

terça-feira, 12 de agosto de 2008

O Jogador





Dostoievski



Pelos cálculos de Potapich, a avó perdeu nesse dia, ao todo, noventa mil rublos, sem contar com o dinheiro que ganhara na véspera. Todos os títulos de cinco por cento, dos empréstimos ao tesouro, todas as acções que levava consigo, tudo tinha trocado, uns atrás de outros. Mostrei-me admirado que tivesse aquelas sete ou oito horas sentada na cadeira de rodas, quase sem se afastar da mesa, mas Potavich esclareceu-me que houvera três vezes em que, efectivamente, começara a ganhar muito, mas que, arrastada de novo pela esperança, não tinha sabido retirar-se.

sábado, 9 de agosto de 2008

Teatro - O Tartufo





Molière



Cena 1
A Senhora Pernelle, seu criado Flipota, Elmira, Mariana; Dorina, Damis e Cleanto


Senhora Pernelle - Vamos, Flipota, vamos, que me quero livrar deles.
Elmira - Anda tão depressa que é dificil segui-la.
Pernelle - Deixe, nora, deixe e não me acompanhe mais adiante; não é necessário tanta cerimónia.
Elmira - Justo é cumprir-se aquilo que é devido. Mas porque anda tão depressa, minha mãe?
Pernelle - Acho insuportável ver como se governa esta casa, onde ninguém pensa em agradar-me. Muito pouco satisfeita vou. Todas as minhas lições são postas de lado;não se respeita nada; todos falam aos gritos; isto parece a corte do rei Pétaud.
Dorina - Não obstante...
Pernelle - És, minha amiga, uma criada um tanto maldizente e muitíssimo impertinente, amiga de te intrometeres e dares o teu conselho em tudo.
(...)

terça-feira, 5 de agosto de 2008

O Quarto Planeta




João Aniceto



Cada um tem a sua verdade. A cada um a verdade que necessita. A cada um a verdade que o satisfaz.
E os homens sempre procuraram a verdade.
Ao longo dos vários caminhos que nunca mais acabam, tantas vezes apenas estreitos carreiros, cada homem foi encontrando a sua verdade e tentou impigi-la à espécie.
Alguns conseguiram-no.
Outros, frustrados, arrecadaram-na depois de impotentemente a terem tentado espalhar.
Outris ainda, guardaram-na para si próprios, narcisicamente a acarinharam e, no mais íntimo dos seus segredos, preservaram-na da forma mais sovina e alarve que encontraram.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Os Vagabundos





Maximo Gorky




Mantinham-se num silêncio melancólico. O meridional enrolava um cigarro e olhava para os pés. Mateus ficou de repente atrás de toda a gente; os outros começavam a regressar aos carros, coçamdo-se sem dizerem nada. O capataz avançava para o grupo, vociferando e ameaçando com os punhos. Tudo aquilo se tinha passado tão depressa que as mulheres que rapavam a duas dezenas de passos e que, como o notei, se tinham precipitado ao meu grito, só se aproximaram no momento em que os homens já se dispersavam para regressarem aos carros.Fiquei sozinho, com a sensação amarga de vexame imerecido e impune que só servia para reforçar a dor.Queria obter uma resposta às minhas interrogações e tinha sede de vingança. Gritei-lhes:
- Alto! Parem aí !