Nada nos pertence mais do que o nome. Beleza, dinheiro, empregos, cargos, situações, casas, amores, tudo passa, tudo se modifica. E até mesmo quando deixamos de existir é apenas o nosso nome que fica gravado.
Hamlet - Sim, é costume. Mas embora eu tenha nescido neste país e esteja habituado a isto, parece-me que seria mais decoroso quebrar o costume do que mantê-lo. Tais excessos, que embrutecem o entendimento, difamam-nos aos olhos das outras nações, do Oriente ao Ocidente. Chamam-nos ébrios, mancham-nos o nosso nome com esse apodo afrontoso, e na verdade ele só, por mais que tenhamos em alto grau outras qualidades boas, basta para empanar o brilho da nossa reputação.
Lear - Estás a recordar-me uma ideia que já me havia ocorrido. De facto tenho notado, desde há pouco tempo, certo excesso de negligência e frieza. Mas procurei repelir essa suspeita, como efeito de uma imaginação demasiadamente desconfiada, e não quis tomar essa negligência aparente como indício de grosseria e atitude premeditada. Pensarei detidamente nisso.
Julieta - E que mais desejaria eu, senaão que o fosses? Mas teria receio que as minhas carícias te matassem. Adeus, adeus! Triste é a ausência, e tão doce a despedida que não sei como arrancar-me das grades desta janela.
Romeu - Que o sono descanse nos teus doces olhos, e a paz na tua alma! pudesse ser eu sono, pudesse eu ser a paz em que adormece a tua beleza!
Existe a sétima arte; a oitava arte, diz-se, é a de fazer dinheiro com a sétima. Esta fábrica de sonhos que é o cinema interessa às massas e converte-se imediatamente num negócio são. Os seus inventores, os irmãos Lumière, não o souberam ver. Quando Méliès quer comprar-lhes o seu invento, desiludem-no: "Não se vende, jovem, e agradeça-nos. À parte o seu interesse cientifico, não tem nenhum interesse comercial.". Méliès não acreditou neles, mas quando produz o sua "Viagem à Lua", que tem um comprimento de 280 metros, confessa que devia parecer louco (os filmes correntes não passavam de 60 metros). Mas Méliès não era comerciante: o seu filme deu muito dinheiro mas não a ele, que nem sequer o amortizou. (...)
Venho da terra assombrada, do ventre da minha mãe; não pretendo roubar nada nem fazer mal a ninguém. Só quero o que me é devido por me trazerem aqui, que eu nem sequer fui ouvido no acto de que nasci.
Especialista francês do período fascista da história italiana. Começou a publicar, em 1962, a sua Histoire du Fascisme en Italie, de que saiu apenas o primeiro volume. É também autor de prefácios aos livros La Révolution Russe, de Rosa Luxemburg, e Sept Essais d'Interpretation de la Realité Péruvienne, de José Carlos Mariategui. Foi colaborador da revista Partisans, editada por François Maspero.
Passaram uns anos, eu já andava em Económicas, ía de eléctrico, não tinha carro, e um dia, quase a chegar ao Conde Barão, era muito cedo,as aulas começavam às oito, ía a estudar e de repente olhei pela janela e vi-a. Estava ali na paragem. O carro começou a andar e eu naquela coisa, desço, não desço, não desci.
Soprava do lado do mar um vento húmido e frio que espalhava, através da estepe, a melancolia pensativa da vaga que quebrava o seu ímpeto na margem, e o murmúrio das árvores na costa. Por vezes rajadas de vento traziam até ao braseiro folhas secas e amarelas reanimando a chama; a bruma nocturna do Outono estremecia à nossa volta e por vezes afastava-se durante um segundo, como que assustada, deixando ver à esquerda a estepe sem limites, à direita o mar infinito e na minha frente a silhueta de makar Tchudra, o velho cigano: vigiava os cavalos do seu campo, que se estendia até cerca de cinquenta passos de nós.
Lavanta-te, senhora minha, pois não é justo que esteja ajoelhada a meus pés aquela que eu tenho na minha alma. Se até agora não tenho demonstrado a verdade do que acabo de dizer, talvez tenha sido por vontade do céu, a fim de que, ao ver a fé constante com que tenho sido amado por ti, saiba melhor e mais completamente amar-te e estimar-te no alto grau que mereces.
Estas coisas sucediam na guerra e na paz podre dos dias e do tempo que não ía mudar ainda na nossa vida. Preso nas entranhas de uma revolta sempre muda, o velho Loneque ía metendo as unhas em sua perna inchada de doença, onde que a pele começava já a estalar um pouco em toda a parte uma comichão que apetecia rasgar e ferir, mesmo sem importar no sofrimento que daí viria depois. Falava então na sua voz fatigada, do fundo e do principio da alma, como quem estava a rezar no Deus esquecido de seu sofrimento:
- Aiuê! Chatice bem danada esta guerra num tem fim...
... Viu-se então um trapo negro, bordado a cores escarlates, vir de cima, lá do alto do circo, e com todo o ruído das bexigas de porco, que prendia na túnica, o Palhaço estoirou na arena, grotesco até na morte...
Foi em Dostoiewsky que eu encontrei um dia esta frase:"No fundo de cada um dos nossos contemporâneos residem latentes os instintos dum carrasco!" Não tens tu encontrado, ó caricato, nas tuas horas de angústia, somente semblantes frios, corações empedernidos e ouvidos cerrados? Quantas vezes perguntaste onde estavam a Bondade humana, a justiça humana? Quem te respondeu? Inútil pergunta. Ninguém.
Não dês esmola a santinhos, Se queres ser bom cidadão; Dá antes aos pobrezinhos Uma fatia de pão.
Glosas
Não dês, porque a padralhada Pega nas tuas esmolinhas E compra frangos e galinhas Para comer de tomatada; E os santos não provam nada, Nem o cheiro, coitadinhos... Os padres bebem bons vinhos Por taças finas, bonitas... Se elas são p'ra parasitas, Não dês esmola a santinhos.