Natália Correia
Tal a gota no rio - quem na entende?
Tal no gelo um cristal - quem no percebe?
Tal o raro na rosa que rescende
Feita de todas na populosa sebe;
Tal no sono o sonho n'alma acende
Um lampejo do Eterno que a concebe;
Tal Deus à Deusa Mãe a mão estende;
Tal o lótus no lodo a luz recebe;
Quem sou eu, em comum carne detida?
De Além me vem a veia; o tempo a corta
E em vagos versos jorra a luz perdida,
Íntima à Íbis que em ocluso oriente
Do meu ser guarda o cálix: a semente
Imortal do sopro que abre a porta.
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