quarta-feira, 30 de abril de 2008

Criminal Mischief




Paul Chevigny



July 20
With eyes shut, the welfare center became a bare concrete roar of sound, like a subway station with a train coming in far off on another level. Ira had been sitting on the oak bench for an hour, and the sound was gradually beginning to lull him. He opened his eyes. If he started to nod, the guard would come and hassle him, might throw him out of the place. But he new that he would see nothing different from what he had seen during the months he had worked here and the even more months he had come as a client afterward.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Histórias Castelhanas




Domingos Monteiro



Desde Medina del Campo que vínhamos sòzinhos na carruagem, mas só naquele momento reparei que ele trazia nas mãos um pequeno crucifixo que apertava entre os dedos e que, de longe a longe, lavava aos lábios num gesto quase automático, como quem respira o perfume de uma flor ou leva ao nariz, por longo hábito contraído, uma pitada de rapé.

domingo, 27 de abril de 2008

O Vil Metal





George Orwell



Tornou a fazer tilintar as moedas na algibeira. Tinha quase trinta anos e não realizara nada -somente o seu mísero livro de poemas, que caíra tão espalmado como uma panqueca. E, desde então, durante dois anos inteiros, lutara no labirinto de um livro horrível que nõ avançava e, como reconhecia nos momentos de lucidez, jamais avançaria. Era a falta de dinheiro, simplesmente isso, que lhe roubava o poder para "escrever". Apegava-se à ideia como um artigo de fé. Dinheiro, dinheiro, tudo gira à sua volta! Seria possível escrever sequer uma novela de cordel sen dinheiro para encorajar o impulso?

quarta-feira, 23 de abril de 2008

A Origem da Tragédia




Nietzsche


Teremos dado um poderoso contributo para a Estética quando tivermos chegado não apenas à compreensão lógica, mas sobretudo à certeza imediata da intuição segundo a qual a evolução da arte assenta o seu fundamento na dualidade do génio apolíneo e do génio dionisíaco: à semelhança do que acontece com a dualidade dos sexos que vai gerando a vida no curso de uma luta perpétua apenas semi-interrompida por reconciliações periódicas.
(...)

segunda-feira, 21 de abril de 2008

À Beira do Fim




Harry Harrison



O sol de Agosto entrando através da janela aberta começou a queimar as pernas nuas de Andrew Rusch até o desconforto o arrancar das profundas de um sono pesado. Só muito lentamente ele começou a tomar consciência do lençol quente, húmido e areente debaixo do seu corpo. Esfregou as pálpebras pegajosas, depois deixou-se cair deitado, de olhos fixos no estuque estalado e manchado do tecto, (...)

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Sozinho em Casa




Pedro Rolo Duarte


Eu estava de férias quando aquilo aconteceu. Eu saí da praia apressadamente e fui a correr para casa quando aquilo aconteceu. Eu lembrei-me de quando era criança e tinha medo do escuro, um medo que não dominava e que me parecia tão óbvio, tão evidente, tão racional - mas agora dei comigo a ter medo da luz. Eu tenho medo da luz, do dia, da claridade que me viola os olhos feridos de morte. Tenho medo dessa luz que a tudo responde sem que lhe perguntemos nada. E há muitas perguntas que muitas vezes não queremos fazer, apenas porque não suportamos ouvir as respostas.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Mulheres de Abril




Maria Teresa Horta



Enquanto Calas




Enquanto calas
dobas o medo
que te cresce na fala

E a solidão bordas
a ponto de silêncio

segunda-feira, 14 de abril de 2008

O Espião




Maximo Gorki


(...)
Pela manhã pareceu-lhe que Raissa tinha esquecido a infedelidade da noite. Preguiçosa e indiferente, serviu-lhe o café com pão; entorpecida pela embriaguez, como sempre, não mostrou, nem uma palavra, nem um olhar, que as suas relações com ele tinham mudado de natureza.
Evsei abalou para a repartição um tanto tranquilo.
(...)

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Apologia de Sócrates



Platão

Terceira Parte

Condenado à morte, Sócrates julga os seus juizes

XXIX.
Apenas por não terem sabido esperar um pouco, Atenienses, ganhareis uma péssima reputação. Os que quiserem caluniar a nossa cidade hão-de acusar-vos de ter dado a morte a Sócrates, homem notável pela sua sabedoria; pois, para vos censurar, dirão que eu era sábio, embora o não seja. E no entanto, se tivésseis esperado um pouco, as coisas aconteceriam naturalmente. Considerai a idade em que estou, tão avançada da vida, tão próxima da morte.

terça-feira, 8 de abril de 2008

O Cristo Cigano





Sophia de Mello Breyner Andresen



O Amor



Não há para mim outro amor nem tardes limpas
A minha própria vida a desertei
Só existe o teu rosto geometria
Clara que sem descanso esculpirei.

E noite onde sem fim me afundarei.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

O Bispo Negro



Alexandre Herculano



(...)
- Que vozes são estas que soam? -perguntou ele ao pagem.
O pagem respondeu-lhe chorando:- Senhor, o cardeal excomungou esta noite a cidade e partiu.(...)
Que enfreiem e selem o meu cavalo de batalha.
(...)
-Memento mei, Domine, secundum magnam misericordiam tuam! - rezou o cardeal em voz baixa e trémula, quando, ouvindo o tropear dos cavalos, voltou os olhos e conheceu Afonso Henriques.
(...)
- Príncipe - disse o velho, chorando -,não me faças mal; que estou à tua mercê!
- Os dois mancebos também choravam.
Afonso Henriques deixou cair o montante, e ficou em silêncio alguns momentos.
- Estás à minha mercê? - disse ele por fim.- Pois bem! Viverás, se desfizeres o mal que causaste. Que seja alevantada a excomunhão lançada sobre Coimbra, (...)

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Tierra Virgen



Alberto Vazquez Figueroa



Lenta, muy lenta, avanzaba la tarde.
Sentado en la rama, estudiaba el claro. Conocia de memoria cada flor, cada hoja, cada tallo, y aun los troncos de los árboles vecinos; sus copas, sus lianas, la sombra que daban en cada momento del dia, su olor e, incluso, su voz cuando los agitaba el viento. Comocia aquel claro como los rasgos de un ser amado; los ojos de su madre, la boca de Lola, el morro de Tom-Tom.
Lentas, muy lentas, avanzaban las tardes.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Crónica de D.João I



Fernão Lopes



Cap XCIX

O Mestre mandou entregar o castelo a Vasco Porcalho


Partiu o Comendador para Lisboa (...) e o Mestre recebeu-o muito bem, apesar de que Pero Rodrigues e Álvaro Gonçalves já lhe tinham escrito (...). Vasco Porcalho fez grande queixume ao Mestre(...).
O Mestre justificou tudo com boas razões, dando-lhe bom acolhimento, e assim ficou alguns dias. E (...) uma vez o Mestre (...) chamou o Comendador e disse-lhe: "Comendador, não esteja triste pelo que se passou, porque aqueles que o fizeram julgaram prestar-me serviço; (...)