domingo, 11 de outubro de 2009

A Malinche





Laura Esquível



Estava-se em plena Primavera quando baptizaram Malinalli. Ela ía toda vestida de branco. Não havia outras cores no seu vestido, apenas os volumes do seu bordado. Ela conhecia a importância do bordado, do fiado e da arte de bordar com penas, e escolhera para a ocasião um buipil cerimonial, cheio de significados, que ela própria fizera.
Os buipiles falavam. Diziam muitas coisas das mulheres que os tinham tecido. Falavam do seu tempo, da sua condição social, do seu estado civil, da sua ligação com o cosmos. Vestir um buipil era uma verdadeira iniciação, ao fazê-lo repetia-se diariamente a viagem interior para o exterior. Ao meter a cabeça no orifício do buipil, transitava-se do mundo dos sonhos que está reflectido no bordado para a vida que aparece assim que se põe a cabeça de fora. Este despertar para a realidade é um acto ritual matutino que recorda, dia após dia, o significado do nascimento. (...)

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