segunda-feira, 30 de maio de 2011

A Cabeça de Salomé








Ana Paula Tavares







Conta-se que Na-Palavra vivia a sua condição de serpente velha e maldita, guardando o território e a palavra, medindo o tempo na balança de cobre dos antepassados, os guardadores das fontes dos rios no nó do Kassai. Liberto de peso, começava os dias a desenhar na areia o desenho fundador: "Havia uma floresta e dentro dela um lugar único onde nasciam todos os frutos. As árvores expunham, ao vento solto, a sua idade, amarrada em colares delicadamente suspensos pelos troncos. Podiam, mesmo, ver-se os corações de tacula em dias mais claros ou sobre o sopro fresco da tarde."

terça-feira, 17 de maio de 2011

Dizes-me Coisas Amargas como Frutos







Ana Paula Tavares








O Lago


Tão manso é o lago dos teus olhos
que temo avançar a mão
cortar as águas
e semear o espanto
na descoberta
da minha sede antiga.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

O Casamento Ardiloso







Cervantes






Segundo  parece, os ciganos e as ciganas vieram ao mundo só para furtar. Nasceram de pais ladrões, criaram-se no meio de ladrões, estudam para ladrões e acabam logicamente por fazer-se ladrões sabidos, trabalhando às quatro rodas, em que a gana de furtar e o acto de furtar são coisas inseparáveis que só perdem com a morte. Assim, uma desta raça, cigana velha que podia ser jubilada na arte de Caco, criou uma garota como se fosse sua neta, a quem pôs o nome de Preciosa e ensinou todas as suas ciganices, embustes e traças de furtar. Esta Preciosa saiu a dançarina mais hábil que existia em todo o reino cigano e a mais formosa e esperta que poderia encontrar-se não só  entre os ciganos (...)