quarta-feira, 28 de maio de 2008

A Opção do Voto




Editor Responsável-António dos Reis


Prefácio

Depois de um longo período em que esteve coercivamente impossibilitado de participar na vida política do País, através da sua expressão mais fidedígna e legítima que é o direito e o dever de votar de todo o cidadão, o povo português será chamado a pronunciar-se directamente para as eleições da Assembleia Constituinte que, em sua representação, elaborará, discutirá e aprovará o texto da Constituição.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

História do Direito Romano




Mário Bretone


Os juristas, para além de escreverem livros, deviam ler; e é natural que não se limitassem a ler os textos dos seus colegas de trabalho. Trebázio Testa, espreitando na biblioteca de Cícero, descobre Os Tópicos de Aristóteles e obriga o seu amigo a explicar-lhos. Sobre os interesses culturais de Tebázio não estamos muito informados; mas os juristas que um século antes se tinham reunido à volta de Pnézio -Manio Manílio, por exemplo, ou Q.Élio Tuberone, o velho- eram seguramente doutos; e um homem cultíssimo era Sérvio Sulpício Rufo. Reconstruir a sua formação intelectual não é (para dizer a verdade) muito difícil.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Didáctica do Teatro





José Oliveira Barata


(...)Apresentada como vocacional disciplina de Teatro, a cumprir-se na totalidade, e em obdiência ao programa proposto, funcionaria como uma ante-câmara de entrada para cursos de Conservatório. Aspectos há que revelam, reflectindo apenas sobre o conteúdo desta disciplina, algumas dificuldades para quem "pensa" nestes domínios, maiores ainda, para quem -os professores- terá que os levar à prática.(...)

quarta-feira, 21 de maio de 2008

A Educação num Portugal em Mudança




Vitorino Magalhães Godinho


O Estado totalitário legou-nos uma escola destroçada. Escola ordenada em função de finalidades obsoletas -a defesa de uma mitologia oficial anacrónica, a inserção numa sociedade ultrapassada, sem liberdade e sem justiça- ou então reduzidas à formação de técnicos necessários ao amontoar de lucros da oligarquia. Quadros docentes numéricamente insuficientíssimos, tremendamente incompletos quanto ao leque das actividades científicas e culturais,(...)

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Felizmente há Luar




Luis de Stau Monteiro



Esta peça foi representada pela primeira vez, em antestreia, na sede do CLUB FRANCO-PORTUGAIS DE LA JEUNESSE, de Paris, no dia 1 de Março de 1969, e foi estreada no dia 30 desse mesmo mês no THEATRE DE L'OUEST PARISIEN, também em Paris, pelo TEATRO-OFICINA PORTUGUÊS.
O espectáculo da estreia foi apresentado por este grupo e pela organização LOISIRS ET CULTURE, da RÉGIE NATIONAL RENAULT.

sábado, 17 de maio de 2008

Eugénia Grandet





Balzac



Na vida monótona e pura das raparigas, chega sempre uma hora deliciosa em que o sol lhes penetra na alma com os seus raios, em que uma flor lhes inspira pensamentos, em que as palpitações do coração comunicam ao cérebro a sua fecundação ardente, e fundem as ideias num desejo vago; (...)

quinta-feira, 15 de maio de 2008

O Home que Mordeu o Cão




Nuno Markl

Prefácio

Esta é geralmente a parte do livro que é escrita por outra pessoa que não o autor. Geralmente uma figura de renome,(...)
Meus amigos, há que desfazer o mito: todas as grandes celebridades que aparecem a prefaciar obras de pessoas deprimentes como eu, fazem-no porque há dinheiro para lhes pagar. Muitas vezes para lhes pagar só o uso do nome na assinatura. O leitor acha mesmo que há grandes vultos a ouvir O Homem Que Mordeu o Cõ? Se eu encontrasse algum grande vulto disposto a assinar o prefácio deste livro, era provável que ele fizesse apenas isso:assinar o estupor do prefácio. O resto teria de ser escrito por alguém que tivesse, de facto, ouvido alguma coisa d'O Homem que Mordeu o Cão- tipo eu.

domingo, 11 de maio de 2008

O Futuro à Janela



Prémio Caminho de Ficção Científica-1991

Luis Filipe Silva


Sexta-feira, 30 de Abril
Hoje, Paris esteve deserta. Sobrevoou a cidade um gigantesco pássaro de fogo com voz irada, e os habitantes, vendo-o, e mais, sentindo-o penetrar até às camadas inferiores da carne, fugiram do seu bafo; estavam repletas, as ruas e as carreiras públicas de transporte, de gente que escapuliam ao calor para irem ao encontro dos seus refúgios de descanso preditectos, cedo de madrugada.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Han de Islândia




Victor Hugo




(...)Estava vestida de crepe negro e de gaze branca, como se para, de certo modo, indicar à primeira vista que os seus dias decorriam no meio da tristeza e inocência. Contudo, mesmo nessa atitude modesta, denunciava os caracteres de uma natureza singular em todo o seu ser. Os olhos e os longos cabelos eram pretos, beleza esta muito rara nos países do Norte; e os olhos volvidos para a abóboda mais pareciam inflamados por um arrebatado êxtase do que abatidos e lânguidos por virtude de um reconhecimento religioso. (...)

segunda-feira, 5 de maio de 2008

A Emigração Portuguesa





Joel Serrão


Quem nunca se sentiu a mais na própria terra -explica o escritor-, a pontos de ser obrigado a deixá-la e a procurar na distância o calor que ela lhe nega, mal pode compreender o que significa esse golpe na consciencia, essa vergastada no amor-próprio, esse sentimento dorido de todo o filho segregado do lar materno. Os companheiros, ou irmãos até, podem continuar à lareira nativa, a comer o pão nativo. O desgraçado terá de partir, de ir semear noutras leivas o suor que o pátrio chão lhe regeita!

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Três Lágrimas Paralelas






Artur Portela




Havia, naquele rosto, três lágrimas paralelas. Suspensas, salientes e simétricas como jóias. E vivas. Como se ela não tivesse acabado de saltar vinte galáxias. Três lágrimas paralelas como três sonhos simultâneos. Absurdamente líquidas, no esquife congelador do transporte.