sábado, 14 de julho de 2007

Loucura


Mário Sá Carneiro



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Durante a execução da Afrodite, depois de uma hora de trabalho, seguiam-se duas horas de amor se amor se pode chamar à prática luxuriosa dos vícios mais requintados.

Dizia a Luisa:

- Eu - quero que tu me ames como eu te amo... Com todo o teu corpo: com as mãos... com os braços... com a boca...

E deste modo se amavam na realidade... Com a boca principalmente...

Tudo isto veio a terminar com a conclusão da estátua. Livre numa intimadade forçada, Raúl absteve-se de continuar; aliás com grande desgosto do modelo.

"Afrodite" é uma obra do autor do "Álcool", o que equivale a dizer: uma obra prima. Contudo, entre todas as outras, talvez a menos notável.

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Foi por este tempo que eu vi Marcela perder a sua habitual alegria: os lábios descorados, os olhos pisados, indicando lágrimas, evidenciando qualquer desgosto. Esperei que me escolhesse para seu confidente, como já tinha feito uma vez. Calava-se. Decidi-me a interrogá-la. Respondeu-me evasivamente.

Não insisti.

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